de helder Costa
Este
“Incorruptível” tem uma história engraçada. Tudo começou em 1995 durante os
ensaios de “O Avarento” de Molière. Raul Solnado era o protagonista, e durante
um almoço desafiou-me para lhe escrever um monólogo e eu sugeri-lhe um drama
moderno: um político que quer ser corrupto, que tem a infelicidade de ninguém o
convidar para os tais altíssimos negócios, assim se transformando – contra a
sua vontade e sofrendo o desprezo de familiares, amigos e correligionários –
num incorruptível. O tema da corrupção estava, como sempre, na ordem do dia.Recordo que Cunha Rodrigues, então Procurador-Geral da República falou da
cultura da corrupção existente em Portugal. O que lhe valeu, evidentemente,
severas reprimendas por parte dos poderes políticos e duma serviçal rapaziada
dos “média”. A peça foi editada pela Caminho, acabou por estrear como monólogo em noite
inesquecível no Café Magestic do Porto, teve posterior montagem em França,
Penafiel, Joane, edição em Espanha, e chega agora – depois de uma apresentação
em Moçambique – numa versão para um ator e uma atriz. Assim como a vida, corroborando a célebre frase do léxico Guterriano “é a
vida!”, também a peça e o destino do “Incorruptível” se alteraram. Quanta à corrupção sim, também se alterou.Cunha Rodrigues falava da corrupção. Hoje, ninguém duvida que a corrupção é
endémica, atinge todas as camadas da população, faz cair diariamente os ídolos
com pés de barro que são os dirigentes partidários, os “opinion makers”, os
televisivos, os meninos do jet-set e os gajos da ralé, e os, os, os…É verdade, isto não tem cura. Porque está na raiz do “sistema”, e o “sistema”
vive disto.
Que fazer? Vai uma boa gargalhada?
Helder Costa
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